A Aplicação do ESG nas Sociedades Empresárias: Uma Nova Era de Sustentabilidade, Ética e Valor Econômico

A crescente preocupação com as mudanças climáticas, as desigualdades sociais e a ética na condução dos negócios está moldando um novo paradigma no mundo empresarial. Nesse cenário, o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) emerge como uma diretriz central para a sustentabilidade e a perenidade das sociedades empresárias.

Mais do que uma tendência de mercado, o ESG representa uma exigência estratégica, jurídica e reputacional para organizações que desejam se manter competitivas, atrair investimentos, participar de licitações e consolidar sua marca.


O que é ESG?

ESG é a sigla para:

  • E – Environmental (Ambiental): práticas voltadas à proteção do meio ambiente, como controle de emissões, eficiência energética, gestão de resíduos e uso consciente dos recursos naturais.
  • S – Social: medidas relacionadas a direitos humanos, inclusão social, diversidade, saúde e segurança do trabalho, bem como responsabilidade com comunidades locais e consumidores.
  • G – Governance (Governança): estrutura ética de gestão, transparência, responsabilidade corporativa, combate à corrupção e qualidade da governança societária.

 Fundamento Jurídico e Aplicação no Direito Societário

No Brasil, a incorporação de práticas ESG pelas sociedades empresárias tem respaldo em diversos dispositivos legais:

  • Código Civil (arts. 997 a 1.038): permite liberdade contratual para incluir cláusulas de governança, responsabilidade ambiental e deveres éticos dos sócios e administradores.
  • Lei das S/A (Lei nº 6.404/76): exige deveres fiduciários dos administradores (arts. 153 a 157), permitindo responsabilização por omissão em condutas contrárias ao interesse da companhia.
  • Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13): impõe responsabilidade objetiva da pessoa jurídica por atos lesivos à administração pública.
  • LGPD (Lei nº 13.709/18): impõe obrigações específicas no eixo social, como proteção de dados e privacidade.
  • Novo Marco Legal das Startups (Lei Complementar nº 182/21): favorece ambientes de inovação e estruturas societárias ágeis, alinhadas a boas práticas ESG.

Além disso, normas internacionais como as IFRS S1 e S2, recentemente adotadas por diversos países, inclusive o Brasil, exigem a publicação de relatórios padronizados de sustentabilidade e riscos climáticos — tendência fortemente impulsionada pela B3 no segmento do Novo Mercado.


 Como o ESG se Aplica na Estrutura das Sociedades

1. Contrato Social ou Estatuto

  • Inserção de cláusulas de responsabilidade ambiental, social e de governança;
  • Criação de Comitê ESG;
  • Previsão de deveres fiduciários ampliados dos sócios e administradores;
  • Inclusão de metas sustentáveis e relatórios periódicos.

2. Acordos de Sócios

  • Estabelecimento de princípios éticos comuns;
  • Política de não discriminação e diversidade;
  • Compromissos de investimento responsável.

3. Gestão Interna

  • Códigos de conduta;
  • Políticas de compliance e integridade;
  • Estrutura de ouvidoria e canais de denúncia;
  • Indicadores ESG e prestação de contas anual.

Benefícios para a Sociedade Empresária

  • Valorização da marca e da imagem institucional;
  • Maior acesso a crédito e fundos de investimento ESG;
  • Captação de talentos com propósito social;
  • Redução de riscos judiciais, reputacionais e ambientais;
  • Vantagem em licitações públicas (Lei 14.133/21).

Etapas Práticas de Implementação ESG

  1. Diagnóstico interno das práticas ambientais, sociais e de governança;
  2. Criação de metas e indicadores ESG personalizados;
  3. Adaptação do contrato social e documentos societários;
  4. Treinamento de sócios e colaboradores;
  5. Acompanhamento contínuo e relatórios anuais.

 O Papel do Advogado no ESG

Advogados, contadores e consultores empresariais têm papel central na orientação, estruturação e monitoramento das práticas ESG, auxiliando na:

  • Redação de documentos societários com cláusulas ESG;
  • Planejamento tributário e contábil sustentável;
  • Prevenção de riscos jurídicos e conformidade legal;
  • Comunicação transparente com stakeholders e órgãos reguladores.

Conclusão Aplicar ESG nas sociedades empresárias não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas sim uma estratégia de gestão inteligente, ética e de longo prazo. Empresas que incorporam esses valores desde a base societária saem na frente em inovação, atratividade e resiliência.

Autor: Dr. Angelo Coelho

Por: Instituto Bertol de Direito, Conformidade e Normas Internacionais